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sábado, 1 de outubro de 2011

  • A Prisão de Cada Um
    Martha Medeiros

    O psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer viver.

    Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível refutá-la.

    A liberdade é uma abstração.

    Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir. No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço.

    Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura.

    São cativeiros bem mais agradáveis do que Carandiru (ex-presídio brasileiro de péssimas condições). Para pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão (parlamentar preso em cela especial), temos que advogar em causa própria e habeas corpus, nem pensar.

    O casamento pode ser uma prisão. E a maternidade, a pena máxima ...

    Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia. Tudo que lhe dá segurança, ao mesmo tempo o escraviza.

    Viver sem laços igualmente pode nos reter.

    Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também.

    Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.

    Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória.

    Nós é que decidimos quando seremos capturados, para onde seremos levados. É uma opção consciente. Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes.

    Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós - nascer - foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria, exclusão..

    Brindemos: temos todos cela especial!

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